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keyboard_arrow_downA casa que viu o talento de Candinho aflorar e o seu desejo de ser pintor florescer, que o viu se descobrir pintor e marcar no coração as cores de sua paleta. A casa que foi palco de tantas brincadeiras, sonhos, medos e alegrias do garoto franzino continuou sendo o chão do pintor até a sua morte. Janelas que deixavam entrar a luz que iluminava a vida do menino e, generosas, deixaram o sonho de ser pintor sair, encontrar o vento de Brodowski e espalhar-se até não caber mais ali, fechado naquelas paredes, naqueles arredores, naquelas paisagens. Paredes que preservam memórias e contam histórias.
Se na condição de casa, de lugar de morada, guarda tantas memórias de seus habitantes, uma em especial a torna diferente, única e inigualável: a de guardar e velar pela memória artística do grande pintor brasileiro, Candido Portinari.
A casa de Portinari, mais que um refúgio sagrado de viver e renovar forças e inspiração, que o espaço simbólico de pertencimento, é o lugar de seu ofício de pintar, um mesmo espaço onde homem e artista convivem indissociavelmente. Uma casa-ateliê, onde o espírito do pintor irrequieto, em constante movimento e crescimento, em busca do domínio das técnicas da pintura, do afresco em especial, que desafiava o artista ao tempo em que o fazia pleno e feliz, como o menino que conhecia cada canto de sua morada, todos os segredos de suas paredes – e que mais tarde como pintor se apropriaria dessas mesmas paredes para nelas deixar uma marca indelével, a ampliação de sua obra e a sua perpetuação no tempo.
A casa-museu, um patrimônio a ser celebrado, guarda algumas singularidades. O pintor, pelos fortes laços com a origem, com a família e com a terra natal, escolheu a casa de Brodowski, onde se descobriu artista e de onde partiu em busca da carreira, para estar sempre que possível, para voltar às origens e ali perpetuar, em suas paredes, a sua arte.
O ponto de partida era o ponto de chegada, em sucessivos retornos. Sua casa de Brodowski era o espaço dos afetos, mas também da criação, de muito trabalho. Uma casa-ateliê, onde Portinari realizou centenas de obras em suas longas e regulares estadas na terra natal.
Uma casa para acolher amigos e transbordar inspiração, para fazer arte.
E nessa perspectiva, essa mostra traz o conjunto das obras realizadas na casa-ateliê, executadas em diferentes técnicas e es, num período compreendido entre 1914 e 1959 cuja pesquisa se fez possível a partir do incansável trabalho do Projeto Portinari, liderado pelo filho do pintor João Candido Portinari, cuja documentação abrange da primeira à última obra realizadas pelo pintor.
Exposição essa também que contribui para desmistificar e desconstruir a ideia equivocada de casa para descansar e ar férias, comprovando ser espaço de trabalho contínuo, experimentação e espírito inquieto do pintor na busca pelo domínio da técnica e de seu ofício de pintar.
Elementos que reunidos dão a dimensão do artista, de sua criação e dos laços profundos e indeléveis com a casa de Brodowski, para onde sempre voltava:
“[...] Entrava em meu povoado
Atravessava-o para chegar em casa. Sempre
A alegria da volta compensava [...]”
(PORTINARI, C. Portinari, o menino de Brodowski. Rio de Janeiro: Livroarte, 1979)
E que foi inspiração para o pintor até o fim:
“[...] A paisagem onde a gente brincou a primeira vez e a gente com quem a gente conversou a primeira vez não sai mais da gente [...]”
(PORTINARI, C. Portinari, o menino de Brodowski. Rio de Janeiro: Livroarte, 1979)