Dados climáticos da estação meteorológica do Museu Casa de Portinari no ano de 2021

O Programa de Acervo do Museu Casa de Portinari é desenvolvido a partir de referências nacionais e internacionais que norteiam a elaboração de documentos técnicos, os procedimentos e processos de trabalho com a coleção. O Plano de Conservação, por exemplo, prevê ações que garantem a conservação e a preservação do acervo museológico por meio de medidas preventivas e corretivas (MUSEU CASA DE PORTINARI, 2021). Semelhantemente, no Plano de Trabalho, também estão previstas ações e rotinas desempenhadas pela equipe técnica de acervo, para que a coleção institucional possa ser conhecida pelas futuras gerações (ACAM PORTINARI, 2021). Sob esse escopo, o Museu Casa de Portinari adquiriu sua estação meteorológica própria: para coletar dados do ambiente em que o museu está instalado e se adiantar às questões climáticas que possam ser prejudiciais à coleção.

Em meados de 2020, o museu adquiriu uma estação meteorológica com o objetivo de obter com mais precisão dados ambientais sobre o entorno da instituição e o próprio município ao qual está inserido. Em 2009, o Plano de Conservação já orientava a coleta desses dados, os quais eram obtidos, a partir de equipamentos como os termo-higrômetros, posicionados em diferentes áreas do jardim da casa; esses dados eram tabulados em planilhas, gerando gráficos com informações bastantes generalistas, uma vez que as medições não eram realizadas no período noturno, ou aos sábados, domingos e feriados. Também eram obtidos dados disponibilizados por outras estações meteorológicas, no entanto, a distância destas era significativa e, desse modo, as informações geradas não correspondiam à realidade do município de Brodowski (SP).

Nesse sentido, a instalação da estação meteorológica foi um investimento acertado, pois, além de atender adequadamente às necessidades do Programa de Acervo, legitimou a importância do papel social da instituição, já que os dados do dispositivo ficam disponíveis para todos os usuários da internet por meio das plataformas Wunderground e Weathercloud.

Compreender o comportamento ambiental só foi possível ao final de 2021, através da compilação dos dados anuais.  A estação foi instalada em setembro de 2020, portanto, em setembro de 2021, já havia indicações suficientes para a compreensão do comportamento climático da localidade. Entretanto, ao compilar os dados de janeiro de 2021 a dezembro de 2021, foi que o museu teve, pela primeira vez, a ideia real do comportamento climático da cidade em período correspondente a um único ano. Esse conhecimento é essencial para que a equipe possa ser capaz de distinguir o que é cíclico e o que é esporádico. Explica-se: a casa foi construída no princípio do século ado, possivelmente na década de 1900. Desde então, tem ado por modificações estruturais, naturais ou planejadas: as naturais são os desgastes ocasionados pelo tempo, rachaduras, envelhecimento de pintura, apodrecimento de batentes de madeira, etc; as planejadas podem ser consideradas as reformas e ampliações feitas pela própria família e as ações de conservação que aram a ser implementadas depois que a casa foi transformada em museu. Durante todo esse tempo, os proprietários adquiriram mobílias, utensílios domésticos, roupas e objetos pessoais, e ainda permitiram que o jovem artista utilizasse as próprias paredes da casa para experimentar as técnicas de pinturas murais. Uma parte de todos esses objetos sobreviveu ao tempo e hoje está exposta no museu: é a coleção da Casa de Portinari, doada pela família do artista desde os anos 1970. Em toda essa relação, as perguntas feitas pela equipe técnica são: A alteração climática causa danos à coleção e à edificação? Como o comportamento climático (se de fato ele se repete) pode interferir na casa e na coleção? Há como prever cenários desfavoráveis e evitá-los? Quais impactos, eventuais desastres naturais podem ter sobre a edificação e sua coleção? Como essas informações podem também beneficiar a sociedade? (MUSEU CASA DE PORTINARI, 2022)

A partir dos dados obtidos pela estação meteorológica, parte das respostas a essas perguntas começaram a ser reveladas e foi possível observar, por exemplo:

• A direção, a intensidade e o período dos ventos que ameaçam os arvoredos ao redor da instituição, podendo comprometer a edificação e consequentemente a coleção;
• O volume de chuva que pode ser considerado nocivo para a edificação e o acervo, podendo causar inundações, e a época do ano em que esse alto volume pode ser registrado;
• Quais os períodos de seca ou de chuvas contínuas que se estabelecem sobre o município, podendo afetar os níveis da área expositiva e de sala de guarda;
• Em quais momentos as temperaturas atingem níveis extremos e
• Quais períodos apresentam maiores variações dos índices – o que pode ser bastante negativo, sobretudo para algumas tipologias da coleção, como a de papéis.

Tais informações contribuem consideravelmente para que o museu continue desenvolvendo seus mecanismos e métodos de preservação, aperfeiçoando ferramentas e processos para que sua coleção possa ser usufruída pelas gerações do presente, bem como as do futuro.

REFERÊNCIAS

ACAM PORTINARI. Programa de Gestão de Acervos. In: Contrato de Gestão nº 04/2021. ACAM Portinari: Brodowski, 2021. Disponível em: <https://www.acamportinari.org/wp-content/s/1.-Contrato-de-Gestao_04_2021_e_Anexos_I_a_V.pdf> o em: 12 mai. 2022.

MUSEU CASA DE PORTINARI. Plano Museológico. ACAM Portinari: Brodowski, 2021. Disponível em: <https://www.acamportinari.org/wp-content/s/M_plano_museologico_2018_rev_2020_2021-Completo.pdf> o em 12 mai. 2022.

MUSEU CASA DE PORTINARI. Diagnóstico de Conservação. Museu Casa de Portinari: Brodowski, 2022 [Documento interno].