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A preservação da coleção do Museu Casa de Portinari é parte essencial do Programa de Acervo da instituição. O Plano de Conservação, desenvolvido pela equipe técnica do museu, determina que a coleção seja acompanhada em diferentes níveis e periodicidades. As ações dessa natureza são compreendidas como parte do monitoramento ambiental, e este
é a base do Plano de Conservação, pois dele advirão as informações que gerarão outras ações. Consiste em uma rotina de vistorias e em registros que permitem detectar alterações de estado, tanto súbitas como a longo prazo, que devem ser escrupulosamente cumpridas (MUSEU CASA DE PORTINARI, 2008, p. 19)¹.
Como visto, uma das ações das rotinas do monitoramento ambiental é o acompanhamento e registro de dados de umidade relativa do ar e temperatura para tomada de decisão que vise a manutenção de condições favoráveis do acervo do Museu Casa de Portinari. A partir deste trimestre, a coleção toda a a contar com o uso de data-loggers para esse trabalho.
Inicialmente feito com termo-higrômetros, o acompanhamento das condições climáticas da coleção baseava-se na inspeção dos aparelhos in loco por um técnico do Núcleo de Acervo: às 8h, antes do início da visitação pública, todos os cômodos e vitrines eram checados e os dados de temperatura e umidade relativa do ar eram registrados em uma tabela. O mesmo procedimento era realizado ao meio-dia e ao término do expediente. Uma média entre as três marcações era calculada automaticamente e considerada para o dia em questão. Nos intervalos entre as vistorias, novas análises eram realizadas e os aparelhos checados, mas não havia nova coleta de dados. Mais tarde, uma planilha com gráficos automáticos seria alimentada com as informações obtidas. Dez aparelhos compunham o grupo de termo-higrômetros que eram espalhados em pontos estratégicos da coleção.
A escolha pelo termo-higrômetro no início dos trabalhos de coleta de dados se deu no sentido de estreitar a relação entre a equipe técnica e as condições climáticas da coleção. Ao término de um ano de coleta de dados, foi possível conhecer o desdobramento da temperatura e umidade relativa do ar interna e externa do Museu Casa de Portinari em doze meses (meados de julho de 2011 a julho de 2012). A equipe, assim, tinha conhecimento do comportamento climático de cada sala. Isso foi particularmente oportuno pelo fato do museu ter sido fechado para restauro no referido mês. A partir desta data, a direção técnica da instituição pôde pensar a nova expografia da casa, contando com valiosas informações sobre o comportamento climático dos ambientes. Quando o museu foi reinaugurado, em 2014, as salas e vitrines já estavam mais uma vez habilitadas com os aparelhos de termo-higrômetro.
No entanto, ao longo do período de acompanhamento, a equipe técnica verificou que a coleção de desenhos originais parecia demandar ainda maior atenção pela fragilidade dos es escolhidos para o desenvolvimento dos esboços do artista. Num entendimento entre a direção do museu, o Núcleo de Acervo e as assessorias de conservação contratadas ficou decidido que para obter dados mais precisos das vitrines dos desenhos – das quais as marcações recomendadas deveriam variar entre 45% e 60% de umidade relativa do ar e entre 20ºC e 25ºC (MEIRELLES, 2010)² – seriam adquiridos dois aparelhos data-loggers.
Funcionando via Wi-Fi, os data-loggers possibilitavam que as informações fossem coletadas em período integral: 24 horas por dia, 365 dias no ano; não necessitando da presença física de um técnico coletando os dados. Além disso, as tabulações já seriam realizadas automaticamente a partir de um sistema inteligente, o qual também foi configurado para envio de dados diários. Também puderam ser configurados alarmes que avisavam a equipe técnica, caso umidades e/ou temperaturas críticas fossem registrados pelos aparelhos. O acompanhamento continuou acontecendo da mesma forma, porém os dados foram processados de forma mais dinâmica.
A experiência positiva com os aparelhos e o conhecimento adquirido do comportamento climático que envolve a coleção permitiram que a instituição se planejasse para a migração do antigo modelo de termo-higrômetro para os data-loggers. Nesse sentido, todos os ambientes e vitrines serão atualmente monitorados com esse modelo tecnológico. Espera-se, com isso, obter dados mais completos e concisos para se oferecer soluções ainda mais precisas para a heterogênea coleção da Casa de Portinari. Uma estação meteorológica portátil também foi adquirida no período, para que as informações do ambiente externo possam ser cruzadas de forma mais sistemática com os dados já conhecidos do museu. As informações sobre esse trabalho serão disponibilizadas na próxima edição deste boletim.
Referências
1- MUSEU CASA DE PORTINARI. Programa de manutenção e conservação preventiva dos acervos dos museus da ACAM Portinari. ACAM Portinari: Brodowski, 2008.
2- MEIRELLES, Heloisa Maria Pinheiro de Abreu. Diretrizes em conservação de acervos museológicos. In: ACAM PORTINARI: Documentação e conservação de acervos museológicos: diretrizes. Brodowski: Associação Cultura de Amigos do Museu Casa de Portinari; São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, 2010.